Isto sim, é ISENTO!
Depoimento de Óscar Aníbal Piçarra de Castro Cardoso
Após o 25 de Abril, houve a necessidade de criar um bode expiatório para o regime anterior. Esse bode expiatório foi a PIDE. Tinha que ser a PIDE. A GNR, por exemplo, não o podia ser. Era numerosa. O Exército também não, até porque foram alguns dos seus membros quem fizeram a revolução. Depois, nós tínhamos realizado com eficácia ofensivas contra aqueles que depois tomaram o poder. Fala-se muito em interrogatórios e torturas. Recordo algo que presenciei: muitas vezes, quando os comunistas eram chamados a prestar declarações, não tínhamos dificuldade nenhuma em que eles 'abrissem o livro'. Contavam a sua história ao pormenor e acabavam a comer os almoços que mandávamos vir da pastelaria Bénard, com lagosta e por vezes até uísque à vontade deles. Mas quando saíam diziam que tinham sido torturados e espancados, até para justificar o facto de terem falado. No dia 25 se Abril, se quisesse poderia ter fugido, bem assim como todos os outros elementos da Organização. E não o fizemos. Porquê? Tínhamos pelo General Spínola uma grande consideração. Fora um bravo comandante na Guiné e tínhamos a certeza de que aquilo que ele nos disse seria feito. O General Spínola garantira, nesse dia, ao meu director, Silva Pais, pelo telefone, para não nos preocuparmos pois ia haver apenas umas alterações nas cúpulas, ninguém nos ia maçar.
No dia 26 de Abril, a DGS foi ocupada. Disseram que nos iam retirar dali porque a população estava muito exaltada e tal e tal. Quando cheguei a Caxias, mandaram-se tirar os cordões dos sapatos. Nessa altura, apercebi-me de que a coisa não era bem como havia sido prometido. É que era para ficarmos duas noites no Forte de Caxias de onde sairíamos em liberdade...
Devo ainda dizer que tinha um isqueiro de ouro maciço, no meu gabinete. Fora-me oferecido pela população de Carmona. Andou por ali um aspirante qualquer. Ao aspirante e ao isqueiro nunca mais os vi. Deve haver uma ligação entre os dois objectos, como é natural.
Resisti ao golpe. Quando soube que uns velhos «Patton» da cavalaria 7 iam atacar a PIDE tomei a iniciativa de bloquear a rua. Tínhamos o direito de nos defendermos. Fui à Praça do Chiado e trouxe um eléctrico da Carris para bloquear a linha. Com outro parado no fim da Vítor Cordon e um camião do lixo a bloquear a Travessa dos Teatros os tanques não entraram. Aparece então uma companhia dos fuzileiros, com uma farda de combate esquisita. Deram-nos a entender que iam ocupar a DGS. Fui com o meu director. Silva Pais e com o Alpoim Calvão dizer-lhes para se irem embora que se nós quiséssemos mandávamos-lhes umas granadas e uns tiros e podiam aleijar-se. E Foram.
Como o Rádio Clube Português estava a desempenhar um papel fundamental no golpe, decidimos que seria bom calá-lo.
Aliás, por volta das onze da manhã desse dia 25, o Inspector-Adjunto Abílio Pires recebera um telefonema do major Begonha, a mando do general Viotti de Carvalho, chefe do Estado-Maior do Exército, inquirindo sobre a possibilidade da DGS "calar" o Rádio Clube Português: Pires pôs a questão ao comandante Alpoim Calvão, que se encontrava no seu gabinete, e começou logo a tratar do assunto, com a anuência do Director-Geral.
Obtiveram-se os meios logísticos necessários para irmos ao Porto Alto, onde estavam localizados aqueles emissores e estoirá-los. Pinheiro de Azevedo, comandante da Força de Fuzileiros pôs à disposição de Calvão o indispensável morteiro. Lá fomos até ao Arsenal, mas quando chegámos, o homem da chave desaparecera e não pudemos arrombar aquilo. Julgo que isto contribuiu bastante para a vitória daquilo.
À noite Azevedo apareceu ao lado de Spínola na Junta de Salvação Nacional.
Por altura do almoço, o major Silva Pais, recebeu um telefonema de António de Spínola. Nessa altura já havíamos tomado a decisão de resgatar Marcello Caetano do quartel do Carmo. Conduzi-lo-íamos para o Forte de S. Julião da Barra, em Oeiras, ou para Espanha onde poderia formar um Governo no exílio. Planeámos assim: Abílio Pires, acompanhado por Agostinho Tienza e Sílvio Mortágua, estacionariam na Rua do Carmo, em plena Baixa de Lisboa, junto ao elevador de Santa Justa. Eu entraria no quartel do Carmo por uma porta lateral. Discretamente, conduziria Marcello por uma outra porta lateral até ao tabuleiro superior do elevador. Alcançaríamos depois a Rua do Carmo e o carro que nos transportaria. O carro era um Mercedes. O segundo carro era um Fiat, propriedade do Abílio Pires, que, se necessário fosse, transportaria M. Caetano porque o Mercedes podia dar nas vistas. Ser-me-ia fácil porque conhecia bem o quartel, estivera aí como tenente da GNR, e era pouco conhecido, porque estivera muito tempo em África.
Por volta das quatro da tarde, já com o Largo do Carmo com alguma gente, lá fomos. Entrei, mas o Professor Marcello Caetano não quis sair. Disse-me que estava tudo tratado com o general Spínola. E que fôssemos às nossas vidas.
O 25 de Abril foi um golpe com a conivência de Marcelo Caetano.
Penso que Portugal vai desaparecer.
No dia 26 de Abril, a DGS foi ocupada. Disseram que nos iam retirar dali porque a população estava muito exaltada e tal e tal. Quando cheguei a Caxias, mandaram-se tirar os cordões dos sapatos. Nessa altura, apercebi-me de que a coisa não era bem como havia sido prometido. É que era para ficarmos duas noites no Forte de Caxias de onde sairíamos em liberdade...
Devo ainda dizer que tinha um isqueiro de ouro maciço, no meu gabinete. Fora-me oferecido pela população de Carmona. Andou por ali um aspirante qualquer. Ao aspirante e ao isqueiro nunca mais os vi. Deve haver uma ligação entre os dois objectos, como é natural.
Resisti ao golpe. Quando soube que uns velhos «Patton» da cavalaria 7 iam atacar a PIDE tomei a iniciativa de bloquear a rua. Tínhamos o direito de nos defendermos. Fui à Praça do Chiado e trouxe um eléctrico da Carris para bloquear a linha. Com outro parado no fim da Vítor Cordon e um camião do lixo a bloquear a Travessa dos Teatros os tanques não entraram. Aparece então uma companhia dos fuzileiros, com uma farda de combate esquisita. Deram-nos a entender que iam ocupar a DGS. Fui com o meu director. Silva Pais e com o Alpoim Calvão dizer-lhes para se irem embora que se nós quiséssemos mandávamos-lhes umas granadas e uns tiros e podiam aleijar-se. E Foram.
Como o Rádio Clube Português estava a desempenhar um papel fundamental no golpe, decidimos que seria bom calá-lo.
Aliás, por volta das onze da manhã desse dia 25, o Inspector-Adjunto Abílio Pires recebera um telefonema do major Begonha, a mando do general Viotti de Carvalho, chefe do Estado-Maior do Exército, inquirindo sobre a possibilidade da DGS "calar" o Rádio Clube Português: Pires pôs a questão ao comandante Alpoim Calvão, que se encontrava no seu gabinete, e começou logo a tratar do assunto, com a anuência do Director-Geral.
Obtiveram-se os meios logísticos necessários para irmos ao Porto Alto, onde estavam localizados aqueles emissores e estoirá-los. Pinheiro de Azevedo, comandante da Força de Fuzileiros pôs à disposição de Calvão o indispensável morteiro. Lá fomos até ao Arsenal, mas quando chegámos, o homem da chave desaparecera e não pudemos arrombar aquilo. Julgo que isto contribuiu bastante para a vitória daquilo.
À noite Azevedo apareceu ao lado de Spínola na Junta de Salvação Nacional.
Por altura do almoço, o major Silva Pais, recebeu um telefonema de António de Spínola. Nessa altura já havíamos tomado a decisão de resgatar Marcello Caetano do quartel do Carmo. Conduzi-lo-íamos para o Forte de S. Julião da Barra, em Oeiras, ou para Espanha onde poderia formar um Governo no exílio. Planeámos assim: Abílio Pires, acompanhado por Agostinho Tienza e Sílvio Mortágua, estacionariam na Rua do Carmo, em plena Baixa de Lisboa, junto ao elevador de Santa Justa. Eu entraria no quartel do Carmo por uma porta lateral. Discretamente, conduziria Marcello por uma outra porta lateral até ao tabuleiro superior do elevador. Alcançaríamos depois a Rua do Carmo e o carro que nos transportaria. O carro era um Mercedes. O segundo carro era um Fiat, propriedade do Abílio Pires, que, se necessário fosse, transportaria M. Caetano porque o Mercedes podia dar nas vistas. Ser-me-ia fácil porque conhecia bem o quartel, estivera aí como tenente da GNR, e era pouco conhecido, porque estivera muito tempo em África.
Por volta das quatro da tarde, já com o Largo do Carmo com alguma gente, lá fomos. Entrei, mas o Professor Marcello Caetano não quis sair. Disse-me que estava tudo tratado com o general Spínola. E que fôssemos às nossas vidas.
O 25 de Abril foi um golpe com a conivência de Marcelo Caetano.
Penso que Portugal vai desaparecer.
Oscar Cardoso
Ex: PIDE-DGS
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